Minha participação no FISL 15

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Esse ano fui palestrante convidada da décima quinta edição do Fórum Internacional de Software Livre, o FISL. Eu não sabia ainda o que esperar do evento já que, por incrível que pareça, nunca tinha participado. Sou usuária de software livre desde 2007 e não sei porque cargas d’água eu nunca havia ido no FISL, mas enfim, o que importa é que esse ano eu consegui ir e vou contar para vocês algumas das minhas impressões.

Sempre ouvi falar que o FISL era um evento “mais político” que o Latinoware, que geralmente é classificado como “mais técnico”. Esse segundo eu já participo representando o KDE desde 2011 e posso falar com um pouco mais de conhecimento de causa. Mas realmente percebo essa diferença entre os dois. E isso tem muito a ver com o contexto histórico no qual se originou o FISL, a história desse evento se confunde com a história do desenvolvimento do movimento software livre aqui no Brasil. No entanto, isso não significa dizer que o FISL é superior ao Latinoware ou vice-versa, apenas que possuem perfis diferentes.

Na edição desse ano me parece que o evento estava afetado por uma polêmica que tomou conta da internet nos últimos dias, a de que o movimento software livre no Brasil tinha morrido. Na grade de programação havia uma mesa dedicada a discutir o tema. Fiz questão de assistir a ela, até porque sabia que o meu querido amigo Fred estaria lá na mesa disposto a se contrapor a essa ideia absurda de que deveríamos velar o defunto do nosso movimento.

Uma fala em particular me deixou bastante incomodada nessa palestra, era a de um dos membros da mesa que afirmava, sem muito pudor, que os ativistas de software livre que usam facebook, gmail, ubuntu, iphone e por aí vai, são todos “idiotas”. E aquilo foi como se ele dissesse que eu com meu trabalho de 7 anos para a causa do software livre, assim como tantos outros ativistas espalhados mundo afora, não fôssemos dignos de ser considerados ativistas legítimos porque usamos algumas dessas ferramentas.

Imaginei um novato que ainda usa windows/mac/etc chegando no evento super animado e interessado em saber como entrar na comunidade e se deparando com uma palestra em que a pessoa diz que ele não serve para o movimento software livre porque ele não é 100% livre. Já pensou? Bom, se a gente continuar a hostilizar todo mundo que usa tecnologias proprietárias e não souber como apresentar o software livre a essas pessoas de uma forma mais interessante, aí sim acho que o movimento vai morrer. Hostilizar as pessoas chamando-as de “idiota” é um tiro no pé. As pessoas tendem a querer se integrar a comunidades onde eles se sentem acolhidas e não hostilizadas.

Esse ativista, que se colocou numa posição melhor e superior a de todos nós, parece não ter consciência do processo de construção de toda militância política. Ele tem afirmado que “não mudou”, como se ele sempre tivesse sido esse “radical livre” que diz ser agora. Pois bem, eu não gosto de alimentar polêmicas mas vamos voltar a alguns anos atrás quando  essa mensagem foi enviada para a lista do PSL-Brasil:

Anahuac

Ok, agora vocês se quiserem saber um pouco melhor o que aconteceu nessa palestra, assistam o vídeo dela aqui. Poderão ver a minha resposta e a de muitas outras pessoas que não concordaram com essa ideia de que o movimento morreu e de que somos todos idiotas.

Vamos falar agora sobre as minhas palestras 🙂

Como havia dito, fui convidada para palestrar no evento e dei uma primeira palestra  (A tecnoutopia do software livre: uma história do projeto técnico e político do GNU) sobre a minha dissertação no espaço Paulo Freire, um espaço maravilhoso dedicado a discussões relacionadas a educação e tecnologia livre. Foi uma experiência muito boa palestrar lá, exatamente por poder falar diretamente com pessoas envolvidas com educação. Acredito que o tema do software livre não pode e não deve ser dissociado das discussões que perpassam educação, acesso e produção de conhecimento,  entre outros. Infelizmente no espaço Paulo Freire as palestras não são gravadas e para quem não pôde ir ao evento ou assistir as atividades do espaço, não vai ser possível saber o que rolou por lá 😦

Disponibilizo aqui os slides da palestra que foi apresentada lá:

A segunda palestra foi sobre a história do Projeto GNU, aproveitei a ocasião do aniversário de 30 anos do Projeto e a finalização da minha pesquisa de mestrado sobre ele para apresentar os principais fatos que marcaram sua criação. Acho que muitas pessoas na comunidade ainda desconhecem a história desse movimento, portanto, penso que seja importante tal palestra para que a gente possa deixar claro, inclusive, contra o que estamos lutando e o que o GNU pretende. Aqui estão também os slides desta segunda palestra:

Quem quiser assistir ao vídeo da palestra completa basta clicar aqui.
Eu também estava no FISL representando a comunidade KDE, portanto, participei das atividades como colaboradora da comunidade aqui no Brasil. Fizemos um encontro comunitário, que foi gravado e pode ser assistido aqui. Nele falamos um pouco sobre o que esperar da nova versão do Plasma que será lançada em julho e tiramos algumas dúvidas sobre Qt.
Bom, o que eu posso dizer do evento é que foi muito produtivo para mim enquanto militante e pesquisadora do software livre, assim como para a comunidade KDE. A  nossa participação, mais uma vez, nesse que é um dos principais eventos de software livre da América Latina, só reafirma que a nossa comunidade está atuante e que sempre procura marcar presença com programação de alto nível para os seus usuários. Esperamos vocês em outubro no Latinoware, onde comemoraremos os 18 anos do KDE 🙂

Autor: Aracele Torres

Historiadora. Pesquisadora de temas relacionados à software livre e tecnologias digitais. Colaboradora da comunidade de software livre KDE.

14 comentários em “Minha participação no FISL 15”

  1. Eu uso Gmail porque me atende, uso Facebook porque me atende, já usei Ubuntu porque foi o melhor, usaria iPhone se me dessem, uso Linux porque é o melhor, uso Gimp, Blender, OpenOffice, KDE porque me atendem e em muitos momentos são os melhores. Não foi o Linux que veio até mim, foi eu que fui buscá-lo porque queria algo melhor. Falo isso como um usuário final, aquele que não entende de filosofias, mas procura aquilo que o atende. Falta muito pouco para o software livre atender tanto aos usuário quanto o proprietário, basta termos humildade, ouvir os usuários e fazer as mudanças que eles esperam. Um dos motivos de ter largado o Ubuntu e o Gnome foi a arrogância de acharem que eles estavam certos e nós, usuários, errados.

    1. Ni! Oi Gleick,

      Entendo muito bem sua posição e há uma ideia válida e importante nela, como vc diz sobre humildade e atender às necessidades dos usuários. (Ainda que, lembre-se, frequentemente atender uns irá desagradar outros)

      Só tome cuidado com o tipo de argumentação que usa, pois a exata lógica que você usa, se tomada sem cuidado, pode ser utilizada para justificar a aquisição acrítica de roupas produzidas por trabalho infantil, matérias-primas decorrentes da degradação irreversível do ambiente, utensílios produzidos com trabalho escravo etc.

      Você mesmo já desliza nessa, justificando a compra de iPhones e uso do Facebook, ambas plataformas voltadas para restringir as liberdades das pessoas para fins de acumulação de poder (econômico e midiático), sendo que no caso do iPhone entra também a promoção do trabalho escravo e a degradação da natureza pela obsolescência programada.

      Então fique atento ao mundo, sua preocupação é válida, mas as coisas não são tão simples quanto parecem.

      Abs!

      1. Obrigado pelo esclarecimento.
        Realmente tais empresas e produtos não são aquele ideal que queremos, por trás desses há práticas que discordamos, mas aí entra o fator “que escolha eu tenho?”.
        Como vou deixar de ter Facebook quando todos meus amigos estão lá? Os videogames são fabricados na China e envolvem questões não muito éticas, mas devo deixar de jogar por causa disso?
        É aí que entramos, os produtos proprietários e anti-éticos estão longe da perfeição, eles só são consumidos por falta de escolha (aquela que atende tanto quanto), então devemos inovar e oferecer essa escolha.
        Exemplo: meu irmão é daqueles usuários que não quer nem saber o que é um computador, mas é ele que comprou o que eu uso e, portanto, dono dele. Se eu viesse com um Linux em tela preta, interface feia, sem inovação, ele iria odiar e voltar para o Windows. Mas eu vim com um Linux com KDE4, sem preocupação com vírus, rápido. Meu irmão adorou e não quer saber de Windows nunca mais.
        Veja, eu não precisei conscientizá-lo com questões éticas, bastou oferecer um produto melhor.
        Desejo muito que a ética, a transparência e a liberdade sejam regra nos produtos que consumimos e quero, junto com vocês, trabalhar para isso.
        Abraços.

  2. Aracele e demais,
    Desde fevereiro, com o post do anahuac, até agora, culminando com o painel no fisl, gerou um grande debate dentro do Movimento. Estamos aqui postando, e isso é ótimo. Então esse papel ele teve, apontou a polêmica.

    Se alguém compra um produto de uma empresa, dá lucro pra empresa. Se alguém come um sanduíche de uma rede multinacional de sanduíches, está endossando o modelo de negócios daquela empresa. Na minha opinião, cada consumidor é cúmplice de todo o trabalho escravo infantil que é descoberto dessas empresas mundo afora. Quem usa carro, moto, avião, não tem direito de argumentar que só tem essa opção, quando se trata de poluição/aquecimento global, etc. É decisão de cada um.

    Não vejo distinção entre “combater o face” e “combater os usuários do face”. Porque a força de uma rede social são seus usuários. Os usuários são a rede. Mas claro, podemos argumentar sobre como falar com eles, ninguém precisa ser grosseiro.

    Portanto, sim, eu acho que quando alguém faz um perfil no face, está endossando o modelo do face, está criando valor pro face, está criando mais um motivo para os demais entrarem no face, está dando page hits pro face. Criar grupo de discussão é pior, sim, mas só quantitativamente. Não há diferença filosófica.

    Aracele, você estudou tanto o projeto GNU, sabe que ele cresceu substituindo partes proprietárias por partes livres.

    Como vamos criar uma alternativa livre pro facebook, se todo mundo continua no facebook? Assim não vai haver mobilização pra criar essa rede livre.

    Como vamos promover o diaspora, que está aí, tem tudo, está hospedado no Brasil?

    Face X Twitter: toda empresa sediada em solo americano tem que obedecer a justiça americana, prover dados quando solicitada, etc. A diferença entre elas é o grau de “entusiasmo” com que elas cooperam ou não. Eu me lembro de ter lido sobre como o twitter enfrentava esses pedidos judiciais. E era caso a caso, não tinha essa de criar porta dos fundos pros arapongas entrarem e pegarem o que quiserem. E eles, ao receberem pedidos da justiça, pediam a justiça para avisar as pessoas que estavam sendo investigadas. Frequentemente era recusado, mas não importa. Faz tempo isso, mas se vcs quiserem eu tento recuperar.

    Sim, claro, o twitter é uma empresa, e isso tudo pode mudar. Ainda mais agora, que abriram o capital.

    Então, quando saíram as revelações do Snowden, ficou claro o entusiasmo do face em colaborar com a vigilância em massa. Sim, ambos são serviços privativos. Mas um é uma rede social, outro é um microblog (onde, em tese, alguém diz o que está fazendo, ou posta atualizações sobre seu blog). Numa rede social está uma grande parte da vida das pessoas, num microblog não. No face os caras implementam coisas como reconhecimento facial em fotos, pô fala sério, isso tem cara de arapongagem.

    E para aderir à contradição de todos, informo que eu também tenho um perfil no twitter. Minha autocrítica. Posto cada vez menos, quase só leio. E agora com o diasporabr, vou parar mesmo, num futuro breve.

    Gmail foi facil sair, é só um email. Eu tinha um dominio registrado e hospedado, painel de controle, etc, foi só criar o email e começar a usar.

    Foi essa a reflexão que o anahuac propôs, onde erramos? O que perdemos pelo caminho? Porque a geração atual ubuntizou, dessa maneira?

    O mundo atual está repleto de ameaças proprietárias, o mundo mobile é exclusivamente proprietário e as pessoas nunca amaram tanto seus dispositivos. O software livre tem pouca penetração nesse mundo.

    Se dermos bobeira, o software livre tem possibilidades bem concretas de ficar pra trás.

    O anahuac pode não ter feito as melhores escolhas semânticas, mas tentando valorar e ponderar cada ideia que está dita ali, acho que desde o post de fevereiro pra cá foi tudo importantíssimo pra todos nós.

    1. Ni!

      “””Como vamos promover o diaspora, que está aí, tem tudo, está hospedado no Brasil?”””

      Er… ‘tem tudo’ é piada né?

      Se quiser conversar sobre outros projetos – como a Redmatrix seilá – até dá pra falar em ‘tem tudo’, mas o diaspora nem grupo de discussão e álbuns de fotos tem, além disso as configurações de privacidade são mais grosseiras que as oferecidas pelo próprio facebook e o protocolo parece ter falhas conhecidas como global ids de tamanho subestimado.

      E antes que digam que estou sendo negativo ou desviando o tema, pelo contrário. Não há nada mais positivo que apontar bugs e soluções, especialmente mostrar código rodando e fazendo o que precisa – como a matrix – pra qual (expondo meus conflitos de interesse! rsrs) contribuo.

      Mas brincadeiras à parte, eu acho completamente desnecessária essa comoção toda e como ela tá contaminando conversas muito mais objetivas e produtivas, ainda mais iniciada sem apontar um problema claro ou soluções viáveis.

      Como eu respondi em cima do post original do sujeito lá, o movimento nunca esteve tão vivo. Só que amadureceu, e nem todos querem acompanhar e sair da terra do nunca…

      Mas o que mais me impressiona é quão facilmente esquece-se de como é um movimento morrendo de verdade. De como era a situação nos anos 90, quando podia se imaginar isso acontecendo de fato.

      Hoje em dia nós só temos que tomar vergonha na cara e trabalhar, que nunca tivemos tanta força.

      Abs,
      .~´

    2. Desculpem-me pela demora na resposta, mas estava em outro evento semana passada e não conseguia conexão decente.

      Na verdade não tenho muito a acrescentar, só algumas coisinhas pra evitar mal-entendidos mesmo.

      Em primeiro lugar @gomex, espero também ter deixado claro que não estava com nenhum espírito de briga. Eu tento passar minhas intenções com emoticons, mas nem sempre a coisa fica muito explícita. 😉

      Eu adoro um debate bem embasado, como esse que estamos fazendo aqui. Acredito que isso enriquece MUITO as discussões sobre o tema. E fico feliz por estarmos conseguindo manter tudo em um bom nível (ao contrário de outros debates em que eu participei, onde a coisa desandou pra agressões pessoais).

      Em relação ao uso de softwares proprietários, continuo mantendo minha posição de que o problema está no serviço e não em seus usuários. Concordo que a mudança parte das pessoas, mas temos que estimular essa mudança oferecendo amparo e esclarecimento e não simplesmente falando que elas deveriam mudar e pronto. Eu entendo a agonia de ver outras pessoas fazendo algo que eu não concordo e/ou não acredito, especialmente por ser, também, vegetariano e trabalhar na defesa dos direitos animais. Se vocês acham que é complicado explicar pras pessoas porque elas não devem usar softwares/serviços privativos, imagine o que é argumentar contra o consumo de carne. 🙂

      Nós temos que aprender a dialogar com as outras áreas. Porque a mudança, qualquer que seja ela, vai ser gradual. Existe toda uma zona cinzenta entre o livre e o privativo e temos que trafegar por essa região com mais tranquilidade. Por exemplo, adianta muito pouco ficarmos participando somente de eventos de software livre. Esse tipo de participação é muito tranquilo, pois estamos, de uma forma ou de outra, “entre amigos” e, por mais que falemos coisas que não agradem a um grupo, sempre teremos alguém do nosso lado – a não ser que falemos uma bobagem realmente MUITO grande. 🙂 Temos é que nos mobilizar para entrarmos em outros eventos, inclusive nos não-técnicos, como encontros de educação e saúde. Aí sim, a gente vai conseguir fazer alguma diferença, pois estaremos levando a lógica do software livre para um pouco que não a conhece, ou conhece muito pouco.

      Por fim, a questão do Twitter. Bom, sinceramente eu não tenho problema nenhum com quem tenha conta lá (como também não tenho problema com quem tenha conta no Facebook). Mas, de novo, continuo defendendo que não adianta criticar o Facebook por ele ser privativo e pertencer a uma empresa e usar o Twitter, pois esse também é privativo e também pertence a uma empresa. Eu sinceramente, não o considero tão melhor que o Facebook. Por exemplo, no auge das discussões sobre o Assange e depois sobre o Snowden, esses temas chegaram aos trending topics e o Twitter simplesmente os eliminou de lá. Isso é censura. E se eles fazem isso, quem garante que não fazem coisa pior? Portanto se uma pessoa quer questionar outras pessoas que usam serviços privativos, ela não deve usar NENHUM serviço desse tipo, sob o risco de cair em contradição. Como isso é MUITO difícil – especialmente se considerarmos que até as televisões hoje usam softwares e serviços privativos – sou mais da linha de que não devemos criticar ninguém. Ao contrário, devemos orientá-las sobre os riscos que ela corre e como sair dessa vida, sabendo que ela só vai fazer isso no tempo dela e quando acreditar que valha a pena. Geralmente isso funciona melhor. E é mais coerente com a nossa proposta de libertação das pessoas. 😉

  3. @Fred

    Não pude responder lá, pois não tinha mais opção pra tal.

    Então, odeio escrever coisas na internet por conta disso, dai fica tudo muito chapado, sem emoção e talz. Imagine que estou aqui com a cara de feliz e tranquilo, sem achar que Aracele está de fato errada no seu posicionamento.

    Sobre a troca dos termos, de fato não foi das melhores, mas acho que naquele momento a seta já tinha sido lançanda, e não havia como voltar atrás sem se comprometer ainda mais a sustentação da argumentação. É complicado dizer ao vivo o famoso “Você tem razão, eu estava errado, agora que você falou faz sentido pra mim, obrigado”

    Sobre as contradições, essa vai pra Anahuac primeiramente, eu falei sobre isso na minha fala. Não adianta apontarmos quando não entendemos o contexto. Fica um grito no eco infinito de um possível ego ou insatisfação/epifania.

    A palestra de vocês serviu para me abrir os olhos, mesmo eu não assistindo. Acredite! 🙂 Eu tinha protelado bastante as decisões e ela serviu como aquela chacoalhada.

    Sobre as críticas, precisamos ir com calma (isso serve pra mim também, pois lendo agora vi como isso poderia ser interpretado), pois estamos em um campo de batalha e nossos inimigos sabem se aliar sem nenhum excrupulo, não precisamos mimetizar suas ações, mas precisamos entender quem são nossos inimigos em focar nossa artilharia.

  4. Ni!
    Não lembro se foi durante ou depois da sua palestra que eu te falei duma board member da Open Source Initiative que tinha uma visão interessante da questão Free e Open.
    Então, lembrei o nome dela, chama-se Danese Cooper. Ela trabalhou na Sun Microsystems e foi uma das maiores responsáveis pelo sucesso de iniciativas de software livre na empresa, incluindo a forma como lidou-se com o Open Office e o Java. Depois foi CTO da Wikimedia Foundation, e agora está trabalhando como chefe de open source do Ebay/PayPal.
    http://danesecooper.blogs.com/
    https://en.wikipedia.org/wiki/Danese_Cooper

  5. Aracele, vc levou pro lado pessoal. O Anahuac consertou depois a coisa do ‘idiota’, e mesmo antes deixou claro, que a incoerência que ele apontava era dos que se diziam “ativistas do Software Livre”, e não dos iniciantes, que, claro, chegam com seus win e mac, querendo saber, etc.
    Eu compartilho com ele a sensação desagradável de que ficamos muito na retórica e pouco na ação. Não é só no fisl, já vi várias vezes gente abrindo um xpzão pra apresentar slides em eventos de Software Livre. A pessoa que está nessa posição, de destaque, tem que dar o exemplo. A maneira que usamos computador hoje em dia é comunitária, é igual transar sem camisinha. Se todo mundo se encontra no facebook pra falar de Software Livre, quem não concorda e está fora (como eu) fica como??
    Foi isso que ele quis apontar, na minha opinião.

    1. Não, Bruno, na verdade eu não levei pro pessoal e não tenho nada contra ele, inclusive parabenizei pela iniciativa de puxar a discussão, só não concordo com a forma como ele faz isso.

      1. Concordo com Bruno, talvez você tenha levado pro pessoal, mas isso é mais normal do que imaginamos.

        Anahuac refez a fala após sua intervenção, mas você não comentou que ele se chamou de idiota depois da sua replica 🙂

        Estou cada vez mais percebendo que as falas inflamadas tem uma tendência enorme para sair “besteiras” 😦

        Eu sou da linha do Oliva, o inimigo é outro, não vale a pena apontar as contradições e sim trabalhar no que somos melhor e paralelamente resolver nossas próprias contradições sem nenhum dedo riste na nossa face.

      2. Rafael, desculpe-me, mas trocar “idiotas” por “auto-sabotadores complacentes” faz pouca diferença pra mim. 🙂 Ao refazer a fala, o Anauhac usou uma ironia bem discreta pra simplesmente reafirmar aquilo que ele havia dito, mas com outras palavras. Ele continuou tirando o mérito de pessoas que são do movimento de software livre e usam o Facebook e outras redes privativas (apesar de não ter incluído o Twitter onde ele tem conta e também é uma rede privativa). Eu não uso Facebook e também fiquei incomodado com a fala inicial, logo, não foi simplesmente uma questão pessoal.

        E concordo que o inimigo é outro. Inclusive defendi isso na mesa. Mas o primeiro a apontar as contradições não foi a Aracele, mas sim o Anauhac. A publicação da Arecele só está mostrando que TODOS nós estamos sujeitos a contradições. Por que é quando a contradição é apontada por uma pessoa é protesto e quando é feito por outra pessoa é “questão pessoal”? 😉

      3. @Fred

        Não pude responder lá, pois não tinha mais opção pra tal.

        Então, odeio escrever coisas na internet por conta disso, dai fica tudo muito chapado, sem emoção e talz. Imagine que estou aqui com a cara de feliz e tranquilo, sem achar que Aracele está de fato errada no seu posicionamento.

        Sobre a troca dos termos, de fato não foi das melhores, mas acho que naquele momento a seta já tinha sido lançanda, e não havia como voltar atrás sem se comprometer ainda mais a sustentação da argumentação. É complicado dizer ao vivo o famoso “Você tem razão, eu estava errado, agora que você falou faz sentido pra mim, obrigado”

        Sobre as contradições, essa vai pra Anahuac primeiramente, eu falei sobre isso na minha fala. Não adianta apontarmos quando não entendemos o contexto. Fica um grito no eco infinito de um possível ego ou insatisfação/epifania.

        A palestra de vocês serviu para me abrir os olhos, mesmo eu não assistindo. Acredite! 🙂 Eu tinha protelado bastante as decisões e ela serviu como aquela chacoalhada.

        Sobre as críticas, precisamos ir com calma (isso serve pra mim também, pois lendo agora vi como isso poderia ser interpretado), pois estamos em um campo de batalha e nossos inimigos sabem se aliar sem nenhum excrupulo, não precisamos mimetizar suas ações, mas precisamos entender quem são nossos inimigos em focar nossa artilharia.

    2. Bom, já falei isso na minha parte do debate, mas repito aqui. O problema não é usar ou deixar de usar. Mas a forma como você lida com quem usa. Eu, particularmente, não tenho conta no Facebook e considero essa plataforma ruim sob vários aspectos. Mas nem por isso tenho que atacar quem a usa. O “inimigo” é o Facebook, é dele que eu tenho que falar mal e criticar e não seus usuários.

      Eu fiz uma distinção na minha apresentação entre o público e o privado. Uma coisa é você criar um perfil pessoal lá. É ruim? Pra mim é. Mas cada um tem o direito de fazer o que quiser com sua privacidade. O problema – e aí eu concordo plenamente com você, Bruno – é criar grupos para discussão. Isso, pra mim, é nefasto – e contraditório, no caso de grupos de software livre – porque força as pessoas a terem uma conta nessas mídias pra participar das discussões. Por isso defendo blogs – com comentários não moderados – como as ferramentas de interação pública mais livres atualmente.

      Eu acho que devemos dar o exemplo é na colaboração com o software livre. Pra mim, o código, a documentação e a tradução que você produz valem mais do que o lugar onde você mantém o seu perfil pessoal. Ou seja, não adianta nada você ter um perfil em uma mídia livre se você não colabora em nada para o movimento. Como já disse o Jomar uma vez “software livre não dá em árvore”. É NESSE ponto que eu acho que estamos mais na retórica do que na ação. Quantas pessoas efetivamente contribuem ativa e produtivamente com o movimento, codificando/traduzindo/documentando softwares livres?

      Inclusive é sempre bom lembrar que software livre não é só GNU/Linux. Por isso o sujeito pode estar usando o “xpzão” dele pelos mais diversos motivos, mas usar exclusivamente softwares livres nesse sistema. Quer um motivo pra ser forçado a usar Windows? Autocad. Infelizmente não existe ainda nenhuma alternativa livre (ou privativa, mas que rode em GNU/Linux) capaz de superar esse programa. Ou seja, condenar uma pessoa sem saber o contexto dela não é uma prática muito justa.

      Por último, tem mais um problema nessa história toda. Por que falar tão mal do Facebook e manter uma conta no Twitter? (a própria FSF tem uma conta lá também) Ambas são mídias privativas. Não é contradição criticar quem tem conta em uma mídia e manter uma conta em outra? 🙂

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