Do Napster ao Megaupload: as aventuras de uma indústria agonizante


Quem frequentava os becos da internet nos anos de 1999/2000 deve ter acompanhado toda a polêmica em torno do Napster. Mesmo quem não estava por aqui nesse período já deve ter ouvido falar nesse nome. Pois é, o Napster protagonizou o primeiro episódio das aventuras da agonizante indústria cultural em busca do seu ouro perdido. Criado em 1999 por Shawn Fanning, ele tinha a função de compartilhar arquivos P2P, coisa que não agradou os amantes da propriedade privada, já que as pessoas podiam ter acesso gratuito a coisas que antes elas só teriam pagando. Não demorou muito para que a indústria reagisse (com uma pequena grande ajudinha do Metallica) e transformasse o Napster em caso de justiça. Em 2001, depois de várias porradas da RIAA (Recording Industry Association of America), gravem esse nome vocês ainda ouvirão muito falar dele!, o Napster caiu! E essa foi a primeira grande jogada da indústria cultural para tentar contornar a falência do seu modelo de mercado diante da emergência da cultura dos downloads! Passemos adiante!

Em 2004 temos o segundo episódio desta saga, a queda do Suprnova, o primeiro grande site de indexamento de arquivos do tipo .torrent.  No ano seguinte foi a vez do também indexador LokiTorrent ser fechado por ações judiciais MPAA (Motion Picture Association of America). Oh, sempre a América, a guardiã da propriedade intelectual, a polícia do mundo!

Ok, depois de fechar esses dois sites a indústria não esperava que eles iriam se incorporar a uma quarta grande pedra no seu caminho. Começava então outro episódio desta infame aventura, a tentativa de afundar o The Pirate Bay, a baía pirata recheada de arquivos .torrent! Esse episódio durou bem mais tempo que os outros, não foi fácil desarticular uma desobediência civil tão organizada como o TPB. Mas tudo começou ainda em 2004 no mesmo ano de criação do site, os ataques da indústria tentavam enquadrar o servidor sueco baseados numa legislação norte-americana, o DMCA (Digital Millennium Copyright Act). Não funcionou muito bem, pelo menos não naquele ano e não até a Suécia adotar a diretiva dos direitos autorais da União Européia, que ocorreu em 2005. A adoção dessa diretiva significava que a Suécia passava a proibir a cópia, distribuição, upload e download de material sob copyright, sem a permissão do detentor de seus direitos autorais. Começava a confusão! Pouco tempo depois de adotar a diretiva o governo sueco, laranja da RIAA e MPAA, invade o local onde ficavam os servidores do site e os confisca. Era 2006 e a briga entre TPB e a indústria começava a esquentar. E o TPB começava a ser consolidar como referência no movimento pela liberdade de compartilhamento de arquivos. Três anos depois acontecia o julgamento e a condenação dos responsáveis pelo site. A despeito do tudo isso, o site ainda está em funcionamento, fazendo a nossa felicidade: http://thepiratebay.org/. Leia coisas sobre o The Pirate Bay já postadas nesse blog!

Não cansada de fracassar na sua empreitada de barrar a cultura dos downloads, a indústria cultural inventa novas siglas que acredita serão capazes de destruir qualquer infrator de copyright! ACTA, SOPA e PIPA são novidades do mundo dos guardiões da propriedade intelectual criadas para prejudicar você e a sua liberdade de compartilhar arquivos na internet! Essa semana eles voltaram a tocar o terror entre os sites de compartilhamentos de arquivos. E você já deve saber que seu querido Megaupload foi fechado pelo FBI e que o dono dele foi preso e será julgado por infringir o copyright! O copiráiti, aquele que todos nós já “violamos”, haverão cadeias suficientes para os violadores de copiráiti? A indústria sabe que não, mas insiste em se comportar de forma reacionária e não se reinventar, se adaptar às novas práticas sociais que emergiram com o uso do ciberespaço.

Há um forte temor entre os internautas de todo o mundo em relação  ao futuro do compartilhamento. Depois do fechamento do Megaupload, 4shared, Filesonic e alguns outros também já estão em clima de despedida. No entanto, a exemplo do que vimos acontecer no passado, ações como essas apenas fortalecem reações por parte dos verdadeiros “violadores” do copyright, daqueles interessados em compartilhar as informações e explorar todo esse potencial que a internet tem. Outros Megauploads virão! Outros Pirate Bays virão! Esse é apenas mais um episódio da choradeira que a indústria sempre costuma fazer quando sente seu monopólio ameaçado, tal como aconteceu há 30 anos com o gravador de fita cassete. Home tape is killing music! E ela não morreu! Let’s download! 😉

Suiça afirma: download de música e filmes não é ilegal!

Lembram do julgamento do The Pirate Bay e de toda polêmica em torno dos downloads de arquivos e do seu suposto caráter prejudicial à indústria cultural? Pois é, essa realidade promete mudar, ainda que sutilmente e aos poucos. Um indício disso é que a Suiça reconheceu que fazer downloads de filmes e músicas não é ilegal. O governo suíço, através de um estudo sobre o impacto dos downloads na sociedade, chegou à conclusão de que a indústria não necessariamente sai perdendo com o compartilhamento de arquivos que a internet possibilita. Segundo o relatório produzido pelo governo, essa ideia de que a indústria cultural está falindo por causa dos downloads permanece sem fundamento e, por isso, não é necessário tomar nenhuma medida no sentido de punir os internautas.

O governo suiço ainda sugere que a indústria do entretenimento deve se adaptar às mudanças promovidas pelo uso das tecnologias digitais, caso contrário corre o risco de morrer. Ops! Eu já ouvi isso antes (várias vezes) em algum lugar!

“É o preço que vamos pagar pelo progresso. Os vencedores serão aqueles que conseguem usar a nova tecnologia para ter vantagens e os perdedores são os que estão perdendo a oportunidade e continuam a seguir modelos antigos de negócio”. Esse é o recado que a Suíça deixa para o resto do mundo. Espero que por aqui isso tenha alguma influência positiva e a turma do Azeredo e cia possa refletir de forma séria e responsável sobre as implicações de se criminalizar os internautas. A Suíça decidiu não dar mais murro em ponta de faca, e nós?

Vamos esperar as ressonâncias dessa decisão por aí! 😉